O Neurofeedback é um tipo de treinamento para o cérebro que pode melhorar a concentração e velocidade mental. É baseado numa interface cérebro – computador, que permite monitorar o funcionamento dos neurônios em tempo real e, com o tempo, aprender a calibrá-los. Há anos vem sendo encarado como uma grande promessa, com resultados reais. Porém, os efeitos são muito suaves, não sendo uma boa relação custo-benefício quando se considera o longo tempo necessário e custo bem elevado.
Tecnologia para melhorar o funcionamento cerebral

O Neurofeedback se baseia numa interface cérebro – computador. Sensores captam sinais elétricos provenientes dos neurônios, sendo decodificados e processados por um software especializado. Com isto, o funcionamento do cérebro pode ser acompanhado, em tempo real, pela tela de um computador. Assim, com o tempo, a pessoa vai aprendendo, por tentativa e erro, a levar o cérebro a mudar. Nesse meio tempo, o programa vai informando se está dando certo, muitas vezes sob a forma de pontos num game.
A marca neurobiológica mais comum do TDAH é uma lentificação nas áreas frontais do cérebro. O cérebro funciona através de descargas elétricas, que são a base da comunicação entre os neurônios. Estas ondas elétricas (pulsos rítmicos) são bem conhecidas e rotineiramente observadas por meio de EEG – eletroencefalografia.
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Uma orquestra dentro do cérebro
Um EEG permite identificar padrões de ondas cerebrais, dentre eles a freqüência das ondas, medidas em ciclos (pulsos) por segundo. A saber, ondas pulsando entre 16 e 21 pulsos por segundo são consideradas ondas rápidas. Em contrapartida, abaixo de 8 pulsos por segundo consideram-se ondas lentas.
Portanto, a principal característica neurológica do TDAH é um excesso de atividade de ondas mais lentas em áreas específicas frontais do cérebro. Já que são estas as áreas correlacionadas às funções executivas, tudo o que é controlado por elas acaba potencialmente prejudicado – incluindo o controle voluntário da atenção, controle da agitação e movimentação excessiva, planejamento, julgamento e tomada de decisões, entre outros.
O Neurofeedback é uma das abordagens naturais, com objetivo de ajudar o cérebro a funcionar diferente. O objetivo é mantê-lo pulsando em faixas de frequência escolhidas, para minimizar os sintomas do paciente. Como resultado, pouco a pouco vão se somando efeitos positivos, como maior capacidade de sustentar o esforço mental e a concentração. Os ganhos obtidos com o Neurofeedback são resultado de um processo de aprendizagem – a pessoa se torna, ao longo do tempo, capaz de focar e sustentar sua atenção, de forma voluntária e consistente.
O tratamento com Neurofeedback é completamente natural e não-invasivo. Ou seja, o cliente não recebe nenhum tipo de irradiação elétrica ou magnética do equipamento. Também não há risco de choque. Eletrodos são colocados sobre o couro cabeludo, para a captação das emissões elétricas dos neurônios, que pulsam dentro do crânio. Por meio de cabos, estas informações elétricas são enviadas a um computador.
O Neurofeedback tem comprovação científica?
Atualmente, já são muitas as pesquisas mostrando que o Neurofeedback tem efeito positivo sobre o TDAH. E este reconhecimento já vem de muito tempo. Há mais de 15 anos, em 2001, duas associações científicas internacionais – a AAPB – Applied Psychophysiology and Biofeedback e a ISNR – International Society for Neurofeedback Research – uniram-se em uma força-tarefa para definir cientificamente os padrões oficiais para avaliação eficácia do tratamento com Biofeedback e Neurofeedback. Cada tratamento recebe uma nota, de 1 (sem suporte emírico) a 5 (eficaz e específico), a depender do nível de eficácia.
A partir da análise das pesquisas realizadas, o Neurofeedback para TDAH recebeu nota 4 em eficácia. Os resultados em geral mostram redução no excesso de frequências de ondas muito lentas e aumento das frequências mais rápidas, associado a melhora da capacidade de concentração em testes específicos e nas medidas gerais de inteligência, além de melhor desempenho acadêmico.
Vantagens e Desvantagens do Neurofeedback
Atualmente, não se aceita facilmente prescrições dos medicamentos usuais para TDAH. Afinal, os psicoestimulantes, dentre eles a Ritalina, Concerta e Venvanse, são medicações psicotrópicas, de uso extremamente controlado, com potenciais efeitos colaterais.
É fato que boa parte dos efeitos colaterais mais conhecidos não são graves. Contudo, sempre se suspeita de efeitos desconhecidos, até o momento em que venham a aparecer. Um exemplo muito conhecido e comentado é do anti-inflamatório Vioxx, que por muitos anos foi campeão de vendas e prescrições e que foi retirado do mercado após muitos anos de uso, quando efeitos colaterais até então desconhecidos apareceram. Outro exemplo são as terapias de reposição hormonal para a menopausa, que descobriu-se serem fatores de risco para câncer. Por fim, recentemente veio a público um eventual efeito colateral da Ritalina, que poderia causar glaucoma e cegueira.
A busca por melhoras de longo prazo e sustentáveis a longo prazo tem aumentado muito a procura por tratamentos não-medicamentosos. Pois, como o TDAH não pode ser curado definitivamente, é preciso conseguir formas de tratamento que tornem o manejo de longo prazo dos sintomas o menos custoso possível.
Não só o Neurofeedback, mas também o Brain Fitness se baseiam em processos de treinamento e aprendizagem. Dessa forma, seus ganhos se mantém por um tempo muito maior que a medicação. No caso da Ritalina, seu efeito dura apenas o período em que a droga está em ação, entre 4 a 8 horas. Se o tratamento é interrompido, todos os ganhos se perdem. Ou seja, o tratamento com a medicação é uma opção para a vida toda.
O Neurofeedback pode substituir a medicação?
Apesar dos resultados positivos das pesquisas que estudaram o Neurofeedback, deixar a medicação não deveria ser o principal motivo para escolher este tratamento. A medicação pode sim trazer contribuições importantes, especialmente ganhos de curto prazo com potencial para abrir uma janela de oportunidade, dando o tempo necessário para que outros tratamentos de longo prazo possam alcançar seus efeitos.
Qual a duração do tratamento?
O Neurofeedback é um tratamento que demanda uma dedicação intensa, por ser um tratamento demorado e que necessita de um programa bem intensivo – recomendável duas consultas por semana, uma consulta no mínimo. Embora não seja possível determinar antecipadamente o tempo total do tratamento, sabe-se que é um tratamento longo. Para ter uma base realista, é preciso pensar em pelo menos 45 a 60 sessões, para ter algum resultado consolidado.
Neurofeedback é caro?
Sim, é um tratamento bem caro. Devido às suas características técnicas, o tipo de equipamento necessário e o alto nível de treinamento exigido dos profissionais que o aplicam, o Neurofeeback acaba sendo bastante oneroso. Também não tem cobertura pelos planos de saúde nem previsão de reembolso, o que exige o custeio particular das sessões.
Por ser um tratamento que demanda acompanhamento altamente especializado, intensivo e de longo prazo, o custo precisa sempre ser levado em conta. Não é algo que possa ser feito em casa, ou em consultas esporádicas, por exemplo, quinzenais ou mensais. Já conheci muitos pacientes que queriam comprar os equipamentos, para aplicar por conta própria, em casa, usando consigo ou com os filhos. Inclusive, tenho sido constantemente consultada por interessados de cidades distantes, que me solicitam uma alternativa como esta.
Há um grupo de profissionais no Brasil que oferece treinamentos para leigos, inclusive com a opção de locação dos equipamentos, como maneira de baixar custos. Definitivamente, é algo que não recomendo, por motivos variados. Inegavelmente, entre eles a impossibilidade da tomada das decisões do tratamento por um leigo (mesmo que, supostamente, com a supervisão de um terceiro) e os conflitos potenciais entre pais e filhos, recusa do tratamento, tentativas de chantagem, pressão e broncas – o tratamento acaba ficando, para as crianças, como mais uma “lição de casa”.
Indicações do IPDA para tratamentos cerebrais não medicamentosos
Para quem procura saídas não-medicamentosas para o TDAH, que sejam menos custosas e que possam, de fato, permitam maior autonomia por parte do paciente, com menor necessidade de acompanhamento constante por parte do especialista, eu prefiro recomendar Brain Fitness – Ginástica Cerebral e Brain Entrainment – Estimulação Cerebral, em paralelo com suplementação nutricional e terapias comportamentais ou mesmo coaching no caso de adultos.