Há muitos defensores do uso de psicoestimulantes como “drogas da inteligência” ou potencializadores de desempenho, alegando serem medicamentos seguros, há muitos anos no mercado, com efeitos colaterais pequenos e de curto prazo. Este é um mito muito perigoso, dando a idéia que psicoestimulantes podem ser usados à vontade, incluindo Venvanse e Concerta. Qualquer medicação envolve riscos e efeitos colaterais, ainda mais medicações psiquiátricas. Justamente por isso, apresentam tarja preta e sofrem controle máximo na sua comercialização.
É mesmo seguro usar Ritalina, Venvanse ou Concerta? Quais os efeitos colaterais?

Os efeitos colaterais mais comuns e conhecidos são perda de apetite e insônia, dores de cabeça, sensação de opressão no peito, taquicardia, tremores e mãos úmidas, boca seca, aumento da ansiedade, entre outros. Todos estes efeitos são derivados do efeito psicoestimulante. No sistema nervoso central, a atuação se dá sobre os neurotransmissores dopamina e noradrenalina. O impacto sobre o sistema nervoso periférico (o restante do corpo) se dá por meio da ativação do sistema da adrenalina.
Nervosismo, insônia e perda do apetite
A sensação de nervosismo e maior ansiedade é bem comum, podendo ser ainda maior em pessoas com traços de ansiedade. Um dos maiores riscos de qualquer medicação psicoestimulante – como a Ritalina, Venvanse ou Concerta, é causar uma crise de ansiedade / pânico. Pode também ocorrer surto psicótico, especialmente em pessoas que tenham uma tendência não identificada a transtorno de humor do tipo bipolar, devido à maior ativação do sistema dopaminérgico.
Insônia recorrente tem sido relatada por usuários de Venvanse, para além daquela que usualmente é encontrada no início do tratamento. Com o Venvanse, especialmente depois de algum tempo de uso, surgem queixas de dificuldade em se aquietar e relaxar, mesmo depois que o efeito diário do medicamento já se foi.
Crianças que comem pouco, com altura inferior à esperada para a idade, com problemas de crescimento ou hormonais (especialmente meninos) podem ter seu crescimento ainda mais afetado. Isto se dá, em parte, pela diminuição do apetite. Nestes casos, deve ser dada atenção especial à curva de crescimento, pelos pais e pelo endocrinologista ou pediatra da criança, além do médico que prescreve a Ritalina.
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Psicoestimulantes devem ser usados com cautela
Mesmo considerando o histórico de outras medicações menos controversas, como por exemplo anti-inflamatórios e terapias de reposição hormonal, drogas podem permanecer no mercado e amplamente distribuídas por anos, até serem repentinamente proibidas quando novas pesquisas descobrem efeitos colaterais antes não revelados.
De fato, não se sabe claramente quais os efeitos de longo prazo do consumo diário de Ritalina por crianças, pelo período em que seus cérebros estão em desenvolvimento. Certo, a Ritalina tem sido usada há muitos anos. Contudo, foi apenas nos últimos poucos anos que o consumo “explodiu”. Alguns médicos tem associado o aumento de casos de transtorno bipolar em adolescentes ao uso de ritalina na infância.
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Um dos estudos mais citados da área, que comparou o uso de medicação a outros tratamentos, inicialmente encontrou resultados muito favoráveis ao seu uso. Contudo, o acompanhamento dos participantes 8 anos após o estudo inicial não encontrou diferenças significativas entre aqueles que tomaram medicação e os que não tomaram. Estes resultados estão sendo também questionados e revistos, portanto até que se tenha mais segurança, é preciso cautela.
Psicoestimulantes, álcool e energéticos
Usar psicoestimulantes com álcool é terminantemente proibido. É uma combinação muito perigosa. O uso simultâneo do psicoestimulante e álcool potencializa todos os efeitos de ativação dopaminérgica. A pessoa pode apresentar sinais de consumo de drogas mais fortes, como grande dilatação da pupila, tornar-se muito eufórica, expansiva e energética, muito além do que ela costuma ser em situações normais.
A euforia pode levar a correr riscos desnecessários, desde dirigir alcoolizado até sexo sem proteção ou de risco. Vale ressaltar o efeito de hiperativação sexual, que ocorre em pelo menos parte dos usuários. Para quem usa, a sensação de bem-estar é elevada – neste ponto, ultrapassa-se o uso terapêutico. Misturado ao álcool, o uso claramente configura abuso de drogas químicas.
Não quer dizer que, se usar Ritalina, nunca mais poderá tomar uma cerveja. A questão é a temporalidade do uso. Se a pessoa estiver sob efeito do remédio, qualquer que seja ele, ou mesmo se já estiver perto do final, não deve consumir álcool. Para ter segurança, o efeito deve ter terminado completamente. Se já se sabe que vai beber numa certa ocasião (uma festa, churrasco no final de semana, happy-hour), deve-se evitar o remédio naquele dia ou pelo menos várias horas antes.
Precauções ainda maiores se aplicam à combinação de álcool mais energéticos, além dos psicoestimulantes. É uma combinação infelizmente muito comum, especialmente entre os jovens, como Red Bull com vodka. O álcool tem efeito desinibidor, suspendendo a auto-crítica e as barreiras, ao mesmo tempo em que o energético e o psicoestimulante atuam como aceleradores.
Sociabilidade, sexualidade e hiperfoco
Todo psicoestimulante tem potencial de interferir com a sexualidade. Em alguns casos, pode afetar a ereção masculina. Também, talvez até com mais frequência, possa hiperativar a sexualidade, levando a excessos, compulsões ou práticas bizarras (sadomasoquismo, sexo extremo) ou até mesmo envolvimento com situações de risco.
Qualquer histórico de compulsão pode ser maximizado pelos psicoestimulantes, devido à indução de hiperfoco. Aumento de número de horas jogando, usando celular, gastos ou sexo compulsivo, bem como qualquer outro tipo de alteração comportamental deve ser observada com cautela.
Outro efeito às vezes relatado é a piora da sociabilidade, com maior irritabilidade, especialmente quando a pessoa é interrompida. Devido ao efeito do hiperfoco, a pessoa se fecha com muita intensidade naquilo que estiver fazendo – a isto se chama “visão de tunel”.
Todas as outras coisas são deixadas de lado, inclusive as pessoas ao redor. Alguém que antes nunca parava em atividade nenhuma, sempre puxando conversa com quem estivesse por perto, pode ficar totalmente voltado para si mesmo, para o que estiver fazendo, inclusive reagindo de forma agressiva se interrompido.
O hiperfoco é um estado que gera prazer e uma motivação intrínseca no seguimento da atividade, por isto o aumento da irritabilidade. Também é algo a ser observado, ainda mais se acompanhado de algum outro sintoma comportamnental que pareça estranho.
Os efeitos colaterais devem ser leves e desaparecer rapidamente. Caso não ocorra – caso se mantenham com intensidade elevada ou haja a percepção de qualquer risco (por exemplo, aumento de compulsões), maior agressividade ou qualquer outro comportamento estranho, deve-se entrar em contato imediatamente com o médico.
Grupos de Risco
Há diversas interações medicamentosas bem conhecidas envolvendo os psicoestimulantes e outras drogas. Qualquer paciente a quem tenha sido indicado um psicoestimulante deve ser submetido a uma avaliação médica completa, especialmente cardiovascular, antes de usar a medicação. Deve também informar ao médico todas as medicações de uso contínuo.
Psicoestimulantes podem levar à morte súbita em pacientes com doenças cardíacas ou defeitos do coração. O risco também vale para quem sofre de arritmias cardíacas, pressão alta, endurecimento das artérias (arterosclerose) ou tem histórico de ataques cardíacos. Também é preciso informar ao médico qualquer histórico de doenças renais, problemas circulatórios, doença vascular periférica (Síndrome de Raynaud).
Histórico pessoal ou familiar de doenças mentais, crises psicóticas, transtorno bipolar, depressão, tentativas de suicídio ou mesmo se estiver apenas usando um antipressivo, tudo isto precisa ser relatado com detalhes ao médico, antes de começar a tomar o remédio. Como mencionado, qualquer medicação ou droga de abuso que interfira com o sistema da dopamina tem o risco de precipitar uma crise psicótica, episódio maníaco e especialmente risco para abuso e dependência.
Estados Unidos e Brasil – Maiores consumidores mundiais de Ritalina
Nos Estados Unidos tem-se o maior consumo mundial de Ritalina (metilfenidato). O segundo maior consumidor mundial é o Brasil. Tanto lá quanto aqui, são várias associações e grupos a favor e contra o uso da medicação. Neste contexto, é relevante atentar para a pressão eventualmente feita pelas escolas por seu uso, associado à idéia de uma “coleira química”, especialmente para tornar mais fácil o manejo das crianças em sala de aula.
Este conjunto de observações e reflexões ressalta o fato que a escolha por qualquer tratamento deve ser feita de forma consciente e informada. Ninguém tem o direito de impor a outro qualquer tipo de tratamento que não seja de sua livre escolha. Isto também se aplica a escolas, que em muitos casos tentam ajudar da forma incorreta, fazendo diagnósticos precipitados para os quais não tem competência ou tentando induzir pais a optarem por este tratamento.
A própria pessoa – ou os pais, no caso de crianças e adolescentes, devem responsabilizar-se pelos seus resultados, tanto pelos positivos quanto pelos indesejados, bem como pelas outras áreas de tratamento / desenvolvimento que se façam necessárias. No caso de adolescentes, os pais devem se responsabilizar pela medicação, pois está realmente ocorrendo uso e venda de Ritalina, bem como sua distribuição entre os amigos, pelos próprios adolescentes.